Na barriga
O João ainda não nasceu, mas já pais, irmãos, tios, avós, amigos da família têm um conjunto de expectativas de como será o menino, a avó espera que seja rechonchudo, a mãe que durma as noites todas, os irmãos que ele cresça rápido e comece a balbuciar palavras depressa para brincarem mais, o pai espera que ele tenha a inteligência do avô e a meiguice da mãe, o amigo José espera que ele se venha a tornar como o pai, um grande atleta de alta competição que deixe a família orgulhosa.
O João ainda não nasceu, mas já pais, irmãos, tios, avós, amigos da família têm um conjunto de expectativas de como será o menino, a avó espera que seja rechonchudo, a mãe que durma as noites todas, os irmãos que ele cresça rápido e comece a balbuciar palavras depressa para brincarem mais, o pai espera que ele tenha a inteligência do avô e a meiguice da mãe, o amigo José espera que ele se venha a tornar como o pai, um grande atleta de alta competição que deixe a família orgulhosa.
Nasceu
Dia 13 de Dezembro, sexta-feira, 2h30 da manhã ouvem-se sons fortes, primeiros os gemidos da mãe, em seguida gritos de choro do João. Feliz deste bebé que ainda desconhece toda as expectativas que tanta gente já tem sobre ele.
Cresceu
No dia seguinte vai para casa e encontra um quarto só para ele, cheio de bonecos e cores. Os anos vão passando e o João vai crescendo, torna-se criança, adolescente, jovem, adulto, idoso, no entanto há algo que lhe passa ao lado, ele não compreende porque é que tem de estar sempre a agradar aos outros, para ser aceite e amado. Toda a vida, todos esperaram algo dele, mais exigiram dele determinadas atitudes e comportamentos, mais ainda zangaram-se com ele por não ter correspondido às expectativas que os outros criaram sobre si, como se lhes tivesse sido prometido algo.
Envelheceu
Hoje sozinho numa cama de hospital, por de acordo com a família ter sido teimoso, casmurro, egoísta, inconsequente ele questiona-se onde é que errou, o que fez mal, porque é que foi tantas vezes rejeitado, porque é que tinha de ser igual a todos os outros, fazer e dizer as mesmas coisas, apenas porque era isso que os outros queriam ouvir ou aceitavam que ele fizesse.
Pede um jornal à enfermeira, que gentilmente lhe leva um, desfolhando as páginas apenas para passar o tempo, há um texto que lhe chama à atenção, de um colunista chamado Leonel Moura:
“As pessoas acreditam praticamente em tudo, desde que não seja verdade. E fazem bem. Já que a verdade é desinteressante, aborrecida, perturba o bom andamento das coisas e ensombra a vida. Pelo contrário, a mentira move multidões, empolga a opinião pública, anima a política, abastece os media, favorece os negócios. Num tempo em que a imagem é tudo, em que importa mais a aparência do que a essência, em que o simulacro é mais determinante do que o real, só os fracos e inadaptados cedem à verdade. A mentira é o que faz mover o planeta.”
Eternizou-se
As máquinas disparam sinal de alerta, as enfermeiras acorrem à cama e num último suspiro João com 73 anos, balbucia “Morro feliz, porque fui verdadeiro comigo próprio.”
2 comentários:
ser genuína...
é o que tenho procurado...
"morro feliz, porque fui verdadeiro comigo próprio"
_ espero puder dize-lo _
Ser genuíno, é ser honesto connosco próprios, mas se não temos conseguido fazê-lo ao longo da nossa vida, existe sempre um momento, um ponto de viragem, apenas depende de nós...
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