O nosso tempo
O nosso tempo para SER é ilimitado. O nosso tempo para fazer e viver a vida tal e qual a conhecemos e nos conhecemos é limitado. Temos 24h/dia e uma EMV (Esperança Média de Vida) de aproximadamente 75/80 anos. O tempo da maioria das pessoas está bastante preenchido e retirando as refeições e dormir divide-se entre o trabalho, estudos, família, namoros, o desporto, cultura ou outras actividades. No entanto há uma questão que se impõe, será que estamos a fazer as melhores escolhas para o que dizemos querer?
Resposta comum: as escolhas possíveis! Será mesmo que não é possível fazer diferente, melhor, sentir maior realização, novas emoções, criar outra estabilidade, crescer e viver de modo mais pleno?
Não gosto de catalogar as pessoas mas julgo que a maioria das pessoas está numa destas 4 fases da sua vida: Absorção, Questionamento, Confronto ou Mudança.
A fase da absorção caracteriza-se por uma total dedicação à vida do quotidiano, pouca reflexão sobre o que se faz, sobre o mundo, porque se tem pouco tempo disponível e ficar a olhar para o ar ou a pensar não paga contas
. Utopias e sonhos são bonitos mas é nos filmes e livros, pois na vida real as coisas são diferentes. Este é claramente uma fase que se caracteriza por um grande desconhecimento da grandiosidade da Vida, de Deus e do EU, de que cada um de nós é uma alma maior unida a milhões de outras.
Na fase do questionamento, colocamos em dúvida algumas convicções ou ensinamentos que nos foram transmitidos. Sentimos que algo não está bem, as coisas não deviam ser assim e questionamos porquê é que o são?
Perguntamo-nos porque somos quem somos, porque fazemos o que fazemos, porque é que Deus permite que tanta coisa de mal aconteça. Colocamos em causa formas e convenções sociais:
* Porque é que me hei-de casar e convidar 200 pessoas, se 80% delas não me dizem nada?
* Porque é que tenho de ter uma vida em que vou para o trabalho gasto 2h a ir vir mais 9h a trabalhar, chego a casa e vou fazer o jantar, arrumar a casa e dormir?
* Porque é que tenho de trabalhar tanto numa coisa que não gosto e receber tão pouco?
* Porquê? Porquê?
* O que é que eu fiz de mal para merecer isto?
Esta fase de dúvidas e questionamento é muito importante, é uma fase de conflito interior e exterior em que percebemos que há coisas que não fazem sentido, não têm lógica que não nos servem. É também a forma como reagimos que determina o nosso avanço para a fase do confronto, ou o regresso à fase da absorção.
Quando avançamos para a fase do confronto, começamos por realizar uma auto-análise e a tentar perceber quais os comportamentos ou convicções que temos e já não nos servem, perguntamo-nos como podemos mudar de rumo. Adoptamos novos comportamentos, reflexo de novas crença, pode passar por coisas simples como que é altura de começar a fazer desporto para ter uma vida saudável, deixamos de rebaixar a cabeça perante o patrão ou a mãe controladora e autoritária, defendemos que a paz não se consegue atingir através da guerra.
É nesta fase que é preciso ter algum cuidado para não cair no erro de se recriminar por escolhas anteriores ou de entrar numa espiral de auto-depreciação, auto-desvalorização e de culpa. Fazemos sempre as melhores escolhas (por pior que nos pareçam) de acordo com o que somos capazes em cada momento.
Esta fase é não só uma fase de confronto com as nossas raízes, identidade e acções, mas também a fase em que confrontamos os outros com a nossa nova realidade, o nosso eu que evoluiu. Assumimos as nossas novas opções, damos um passo em frente.
Assim, mais rapidamente uns, outros de forma mais demorada avançam para a fase da mudança, em que as dúvidas não desapareceram mas deram origem a uma evolução interior, o confronto não consumiu mas projectou-se nas atitudes. E as mudanças interiores reflexo de ponderação, debate e reflexão produzem uma transformação ao nível do ser e do fazer. As atitudes mudam e os comportamentos alteram-se e provavelmente muitos estranham, mas são simultaneamente afectados por isso.
Dinamismo do processo
Este é no entanto um processo muito dinâmico e caracterizado por uma certa dimensão cíclica. Isto é, o facto de vivermos uma mudança num determinado nível da nossa vida não significa que não estejamos na fase da absorção noutros aspectos, e que possamos percorrer o processo novamente. É até normal que assim aconteça dado que varia da dimensão e importância das mudanças e o tempo espaço que necessitam para acontecer.
É preciso termos coragem para nos desafiar e desafiar os outros.
Não é uma obrigação, mas uma necessidade.